oi sumidos rs
se formos analisar friamente, a lógica por trás de uma empresa não manifestar-se sobre política faz bastante sentido. sem julgar no erro ou no acerto, é fácil de entender porque uma empresa ou entidade empresarial não coloca seus apoios de maneira clara, seja pelo ponto de vista de negócios, seja pela realidade mais óbvia de que elas tendem a apostar em todos os cavalos da corrida para garantir alguma vitória.
cobrar um posicionamento político desses cnpjs não só é infrutífero, como pouco sentido fez em nossa história quase sempre — se obviamente ignorarmos os últimos 2 anos de psicodelia roteirística do que quer que esteja levando a história de nosso país aceleradamente ladeira abaixo.
mas o QUASE do parágrafo anterior encontra uma anomalia temporal. uma anomalia chamada 2016.
em 2016, data venia e etc, parece um éon de distância no espaçotempo, outra era geológica, um recorte do antropoceno até irreal olhando com o olhar anacrônico do agora.
nesse ano, a CNI — Confederação Nacional da Indústria olhava nossa situação política e taxava: “espetáculo deprimente”. concomitantemente, a Fiesp apontava um CAOS. a Abinee — Associacao Brasileira da Industria Eletrica e Eletronica clamava: o brasil está à deriva. a APAS — Associação Paulista de Supermercados se ruborizava com a “afronta à população brasileira”. o SindusCon-SP se preocupava com o estado democrático de direito e a OAB Nacional seguia o bonde. a Fecomercio SP bradou pela luta pela democracia contra uma mancha na história do país. cansados de tudo acabar em pizza, o Habbib’s e a Ragazzo tinham “fome de mudança”. a Firjan dizia que “não podemos continuar nessa pasmaceira”. o ano de 2016 viu EMPRESAS ENTRANDO EM GREVE, uma coisa talvez inédita pelo formato: não eram seus funcionários parando de trabalhar para conquistar algum direito, eram as empresas em si parando de funcionar para buscar essa luta injusta que era tão necessária ao país.
teve pato inflável, cartinha, ação publicitária, teve letreiro gigantesco na paulista pedindo uma só coisa: o impeachment da dilma.
os motivos para tamanha GOTA D’ÁGUA obviamente escandalosos para um país que ainda se escandalizava: a nomeação de um investigado para um cargo político e uma manobra fiscal de praxe em todos os governos da história.
isso não dava pra tolerar.
corta pra os longínquos 5 anos do futuro distante que se tornou o hoje. os números de nossa economia antes e agora tão facinhos de achar na internet, eu nem preciso deles. o que eu preciso é só entender uma coisinha simples: quebrar uma TRADIÇÃO CAPITALISTA BRASILEIRA de empresas e entidades não posicionarem politicamente anda por onde? o que aconteceu com a menina revolta dessa classe empresarial e industrial brasileira? onde estão os infláveis e letreiros, as ações publicitárias e cartinhas? e num zeitgeist todo propício pras NOTAS DE REPÚDIO, por onde andam as danadas?
eu entendo o ânimo (e a falta de zelo) de amassar panela batendo forte o tambor, eu entendo entrar de cabeça num engarrafamento proposital e buzinar até a buzina piar fino, eu entendo todos os textões (risos) e revoltas. mas essa galerinha aí de cima caladinha vai fazer uma faltinha na hora de mostrar pra quem se deve o que se deve fazer.
o que tem acontecido nos últimos 2 anos eu nem preciso enumerar, e mesmo que eu tentasse, até o final do dia mais coisas horrendas iriam surgir. superar o horror com mais horror tem sido praxe.
LEMBRANDO: a gota d’água pra eles foi uma nomeação e uma manobra fiscal contumaz até hoje. ou o copo desses cara aumentou e ainda tá seco, ou a gente precisa pensar um pouquinho mais sobre o que é a classe empresarial brasileira no final das contas.
enquanto eles dormem, a gente que continua vivendo o pesadelo.